Orientação e Discussão Sexual

      A discussão sobre a inclusão da temática da sexualidade no currículo das escolas de ensino fundamental e médio vem se intensificando desde a década de 70,provavelmente em função das mudanças compartimentais dos jovens dos anos 60,dos movimentos feministas e de grupos que Pregavam o controle da natalidade.




Com diferentes enfoques e ênfases, há registros de discussões e de trabalhos em escolas desde a década de 20.A retomada contemporânea dessa questão deu-se juntamente com os movimentos sociais que se propunham, com a abertura política, repensar o papel da escola e dos conteúdos por ela trabalhados.Mesmo assim, não foram muitas as iniciativas tanto na rede pública como na rede privada de ensino.



     A partir de meados dos anos de 1980, a demanda por trabalhos na área da sexualidade nas escolas aumentou em virtude da preocupação dos educadores com o grande crescimento da incidência de gravidez indesejada entre as adolescentes e com o risco da infecção pelo HIV (Vírus da Aids) entre os jovens.


     As manifestações da sexualidade afloram em todas as faixas etárias.Ignorar, ocultar ou reprimir são respostas habituais dadas por profissionais da escola, baseados na idéia de que a sexualidade é assunto para ser lidado apenas pela família.


     Na prática, toda família realiza a educação sexual de suas crianças e jovens, mesmo aquelas que nunca falam abertamente sobre isso.O comportamento dos pais  entre si, na relação com os filhos, no tipo de cuidados recomendados, nas expressões, gestos e proibições que estabelecem, são carregados dos valores associados à sexualidade que a criança e o adolescente aprendem.


      O fato de a família ter valores conservadores, liberais ou progressistas, professar alguma crença religiosa ou não, e a forma como o faz, determina em grande parte a educação das crianças e jovens.Pode-se afirmar que é no espaço privado, portanto, que a criança recebe com maior intensidade as noções a partir das quais vai construindo e expressando a sua sexualidade.


      A mídia, nas suas múltiplas manifestações, e com muita força, assume relevante papel,ajudando a moldar visões e comportamentos.Ela veicula imagens eróticas, que estimulam crianças e adolescentes, incrementando a ansiedade e alimentando fantasias sexuais.Também informa, veicula campanhas educativas, que nem sempre são adequadas esse público.Muitas vezes também moraliza e reforça preconceitos.Ao ser elaborada por crianças e adolescentes, essa mescla de mensagens pode acabar produzindo conceitos e explicações tanto errôneos quanto fantasiosos.

     A sexualidade no espaço escolar não se inscreve apenas em portas de muros e paredes.Ela invade a escola por meio das atitudes dos alunos em sala de aula da convivência social entre eles.Por vezes ,a escola realiza o pedido ,impossivel de ser atendido,de que os alunos deixem sua sexualidade fora dela.


 Há também a presença clara da sexualidade dos alunos que atuam na escola.Pode se notar,por exemplo,a grande inquietação e curiosidade que a gravidez de uma professora desperta nos alunos menores,os adolescentes testam,questionam e tomam como referência a percepção que tem da sexualidade de seus professores,por vezes,desenvolvendo fantasias em busca de seus próprios parâmetros.Todas essas questões são expressas pelos alunos na escola.Cabe a ela desenvolver uma ação crítica, reflexiva e educativa.Queira ou não, a escola intervém de várias formas,embora nem sempre tinha conciência disso e nem sempre acolha as questões dos adolescentes e jovens.


     Praticamente todas as escolas trabalham o aparelho reprodutivo em Ciências Naturais.Geralmente o fazem por meio da discussão sobre a reprodução humana, com informações ou noções relativas à anatomia e fisiologia do corpo humano.Essa abordagem normalmente não abarca as ansiedades e curiosidades das crianças, nem o interesse dos adolescentes, pois enfoca apenas o corpo biológico e não inclui a dimensão da sexualidade.


      Sabe-se que as curiosidades das crianças a respeito da sexualidade são questões significativas para a subjetividade, na medida em que se relacionam com o conhecimento das origens de cada um e com o desejo de saber.A satisfação dessas curiosidades contribui para que o desejo de saber seja impulsionado ao longo da vida, enquanto a não-satisfação, gera ansiedade, tensão e, eventualmente inibição da capacidade investigativa.


      Se a escola deseja ter uma visão integrada das experiências vividas pelos alunos, buscando desenvolver o prazer pelo conhecimento, é necessário reconhecer que desempenha um papel importante na educação para uma sexualidade ligada a vida, à saúde, ao prazer e ao bem-estar e que engloba as diversas dimensões do ser humano.


     O trabalho sistemático de orientação sexual dentro da escola articula-se, também com a promoção da saúde das crianças, dos adolescentes e dos jovens.A existência desse trabalho possibilita a realização de ações preventivas das doenças sexualmente transmissíveis de forma mais eficaz.


      Devido ao tempo de permanência  dos jovens na escola e às oportunidades de trocas, convívio social e relacionamentos amorosos, a escola constituí-se em local privilegiado para a abordagem da prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, não podendo se omitir diante da relevância dessas questões.


       A orientação sexual na escola é um dos fatores que contribui para o conhecimento e valorização dos direitos sexuais e reprodutivos.Estes dizem respeito à possibilidade de que homens e mulheres tomem decisões sobre sua fertilidade, saúde reprodutiva e criação de filhos ,tendo acesso às informações e aos recursos necessários para implementar suas decisões .Esse exercício depende da vigência de políticas públicas que atendam a estes direitos.


       Com a inclusão da orientação sexual nas escolas, a discussão de questões polêmicas e delicadas, como masturbação, iniciação sexual, o ficar e o namoro, homossexualidade, aborto, disfunções sexuais, prostituição e pornografia,dentro de uma perspectiva democrática e pluralista,em muito contribui para o bem- estar das crianças,dos adolescentes e dos jovens na vivência  de sua sexualidade e futura.

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